Hugo



Nunca me interessei muito por este novo filme do Scorsese. Não sei porquê, mas nunca vi em Hugo nada que me puxasse o suficiente para o ver. Certamente que onze nomeações para os Oscars me chamaram a atenção, mesmo que este ano a cerimónia pareça saída de uma centrifugadora ou mesmo que, actualmente, os Oscars não tenham propriamente qualquer importância para além de se poder celebrar anual e mundialmente o gosto que temos por cinema.

Mesmo acreditando em tudo o que disse em cima, decidi ver o filme e acho que todas essas nomeações já estão a ter os lucros desejados. Claro que o filme não é mau, até é bem conseguido, mas não posso deixar de sentir algum vazio naquilo que tentam transmitir.

A forma como começa também não ajuda muito, já que alonga-se demasiado a tentar construir algo que se percebe num minuto. Não penso que fossem necessários praticamente dez minutos a explorar a mesma situação. E havia tanto que devia ter sido melhor abordado que gastar este tempo em nada, é uma pena.

Custa-me também a aceitar que existam personagens num filme apenas para que me façam simpatizar com ele. Era realmente necessário existir um inspector com uma deficiência motora que é o terror de jovens órfãos e que tem uma paixão secreta e recalcada por uma florista que trabalha numa estação de comboios? Mais tempo perdido a tentarem forçar-me algo pela goela abaixo e que nem com vários litros de água conseguiria engolir.

Claro que sendo baseado num livro há certas coisas a respeitar, mas baseado é diferente de cópia, e também é preciso saber representar as coisas numa plataforma diferente, porque o que resulta num livro, pode não resultar num filme…

Ignorando isso, temos um filme que em uma hora poderia estar despachado, mas que com tanta palha se prolonga por duas. Nada contra palha, por vezes ela até acrescenta conteúdo a uma obra, mesmo que não esteja relacionado com a linha primária que guia o filme, mas não pode ser, de todo, conteúdo demasiado plástico, falso.

Essa plasticidade acaba também por afectar momentos importantes do filme. Eu que tanto gosto de cinema, fiquei bastante contente quando vi o enfase dado à Sétima Arte em Hugo, mas pareciam querer tanto que eu vertesse umas lágrimas que acabou por me passar um pouco ao lado.

Posso estar a parecer demasiado duro com o filme, mas até foram duas horas que me divertiram. O elenco agradou-me bastante, a realização estava bem conseguida e a fotografia é fantástica, mas só gostava que tivesse sido algo mais, algo com mais alma, com mais coração.

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