Shame



Meses depois da estreia internacional, e como é hábito do nosso país, finalmente chegou até nós o novo filme de Steve McQueen e Michael Fassbender, Shame. Realmente é uma vergonha que tenha demorado tanto tempo mas, para grande satisfação de todos aqueles que aguardavam com alguma ansiedade este filme, ele chegou e mais vale isso do que nem chegar cá.

Seja como for, a espera valeu a pena! Não que o filme tenha melhorado com o tempo ou que tenhamos visto algo diferente do resto do Mundo, mas estamos perante um filme que sabe como nos chamar a atenção desde o primeiro segundo, seja pela naturalidade com que assistimos ao dia-a-dia de uma qualquer pessoa, seja pela complexidade de emoções que dela surgem, assim como daqueles que a rodeiam.

A realização de McQueen em muito ajuda a que consigamos captar essa complexidade das personagens. Ela é qualquer coisa do outro Mundo, consegue ter um dinamismo tal que podemos estar minutos a olhar para um mesmo plano que conseguimos sempre encontrar uma palete de emoções e momentos bem distintos.

Obviamente que Michael Fassbender é um mestre a pintar esta tela, é ele que transforma a palete numa pluralidade de cores e tonalidades que deixa o espectador sem fôlego. Com apenas um olhar, ele transmite tanta emoção que se torna surreal ver a naturalidade com que ele consegue tal feito.

Para ajudar Fassbender durante este seu percurso, em que a sua personagem gera um conflito para largar a conformidade de quem é para se tornar em alguém diferente, alguém que procura alguma normalidade na sua vida, ou algo que muitos consideram ser normal, temos Carey Mulligan, aquela famosa criatura apática que tem sempre a mesma prestação em todos os filmes.



Surpreendentemente, ela está arrebatadora neste filme! De tal modo arrebatadora que havia um interesse bastante elevado naquilo que a sua personagem ia fazer a seguir e existia uma ânsia para que ela voltasse a aparecer no ecrã. Continuem a coloca-la nas mãos de bons realizadores e a dar-lhe bons argumentos que ela certamente continuará a ter prestações deste calibre e não a colocar a sua única expressão conhecida até então…

Outro ponto extremamente forte de Shame é sem sombra de dúvida a banda sonora do filme. Como se as cenas já não fossem bastante intensas, as composições de Harry Escott adiciona mais umas quantas camadas a essa intensidade. É soberba!

Nem tudo é assim tão perfeito no filme como a banda sonora ou a realização ou os dois actores acima mencionados, e há momentos que talvez não fossem necessários ou mesmo personagens totalmente desnecessárias, ou talvez a forma como foram construídas é que era totalmente descartável, mas ainda assim este é um excelente filme, que não se deixa manipular por padrões totalmente desfasados daquilo que é imposto pelas produtoras e distribuidoras e isso só abona a favor desta produção.

A partir do momento em que a sexualidade é algo visto como algo pavoroso e não algo natural, que está num patamar mais acima do que pessoas a serem esventradas ou violentadas, talvez seja o momento ideal para rever certos padrões que fogem em muito da realidade. O sexo vende, mas aparentemente a violência vende mais.

Sem comentários:

Enviar um comentário